terça-feira, 23 de novembro de 2010

Fugindo do estereótipo de personagens gays caricatas, cheios de trejeitos, frescuras, vozes finas e fala mole, o Julinho da novela Ti-ti-ti foge do lugar comum de novelas e aparece como um homossexual bem natural, sem exageros. O Virgula conversou com o ator que vive esse papel, André Arteche, sobre a construção de seu personagem, a homossexualidade e seus planos de carreira.

Ele contou como se preparou para a novela e sobre a criação de Julinho, juntamente com o diretor da novela. "A preocupação foi justamente não cair no estereótipo e por isso foi mais difícil. O Jorge Fernando me ajudou bastante, me disse qual seria o tom do personagem. A partir daí foi trabalhar para alcançar os sentimentos que o Julinho exige. Que não são poucos".

André ainda completou: "Sabia que não ia ser fácil, mas ao mesmo tempo confiava na força do personagem. O Julinho é um cara que fala coisas importantes, sem medo da repercussão. Esta autenticidade anda muito em falta e as pessoas gostam quando vêem alguém assim".

Julinho é um cabeleireiro que namorava Osmar, interpretado por Gustavo Leão. No começo da trama, Osmar e Marcela (Isis Valverde) sofreram um acidente de carro, no qual o rapaz acabou morrendo. A partir desse acontecimento a história vem se desenrolando, com vários conflitos e revelações.

"Eu sinto que as pessoas gostam do Julinho. Ele é um cara positivo, que procura ajudar e ao mesmo tempo não é ingênuo. Isto torna o personagem muito real e a resposta na rua tem sido ótima", contou o ator.

Em setembro, André contou para o jornal O Globo, que se fosse preciso dar o primeiro beijo gay na televisão, ele e Gustavo Leão estariam preparados para a cena. Mas a cena não aconteceu e o ator não está preocupado com isso.

"O tal beijo gay não é o mais importante. O principal é que as pessoas entendam que a relação homossexual pode ser tão bonita e verdadeira quanto uma relação hetero, como era no caso do Julinho e do Osmar".

A repercussão do relacionamento gay apresentado na trama pode ajudar na discussão do tema na sociedade, que ainda gera muito preconceito e polêmicas, como a agressão a jovens ocorrida na Avenida Paulista considerado um caso homofóbico.

"Isso é ignorância, e parte de pessoas pobres de espírito. Pessoas que vivem na sombra e querem atrair os outros para seu universo negativo. Na minha opinião, este tipo de pensamento terrorista só pode ser eliminado com investimentos em educação", disparou André e ainda falou da contribuição de seu personagem para a aceitação da realidade pelas pessoas.

"Ao verem um homossexual, como o Julinho, se posicionando, conquistando pessoas, amigos e sendo feliz, as pessoas vão tendo mais clareza que isto é perfeitamente normal. Espero que esteja servindo também para combater esse tipo de discriminação".

Ele que também fez o indiano Indra em Caminho das Índias, falou também em quem se inspirou como ator, no começo de sua carreira. "Me inspirei em todo o pessoal que fazia Sexo Frágil, um programa do João Falcão. No início da carreira é importante ter algumas referências, para depois encontrar o teu próprio caminho".

André também falou sobre seus planos para depois da novela: "Quero sempre poder fazer personagens que me estimulem e desafiem. Assim a cada personagem aprendo e melhoro como ator. Tenho um filme para fazer no sul e alguns projetos em teatro. Mas vou me obrigar a dar uma parada e descansar".

Merecidas férias, não é?

domingo, 14 de novembro de 2010


Enquanto as discussões sobre beijos gays nas histórias das 21h continuam rendendo, olha a surpresa: é justamente na novela das 19h, "Ti-ti-ti", que um personagem homossexual surge mostrado de uma maneira 100% natural, sem caricatura ou dramas exagerados. Falo de Julinho, papel de André Arteche. O ator era o Indra em "Caminho das Índias", indiano que não resistia aos encantos da vizinha mais velha e matadora, Norminha (Dira Paes). Foi uma bela estreia. Agora, na novela de Maria Adelaide Amaral, com um personagem totalmente diferente, ele também está acertando em cheio.


Julinho é gay, mas não uma caricatura. Caricatura é Jacques Leclair (Alexandre Borges), que não é gay. Julinho teve um grande amor, Osmar (Gustavo Leão), morto num acidente de carro. A família do rapaz, conservadora, demorou a saber a verdade. Quando descobriram, o conflito explodiu, e ele acabou expulso pela "sogra", Bruna (Giulia Gam). Tudo tratado de uma maneira bem realista, emocionante e até bem romântica, porque o rapaz está prestes a encontrar um novo amor.

Se Arteche não fosse um ator de tanto talento, poderia ter se limitado a fazer escada para Ísis Valverde, a mocinha Marcela. Julinho é apenas seu melhor amigo, então aparece muito em cena com ela, que tem mais importância na história. Mas o ator construiu um tipo irresistível.

Seria injusto não atribuir este êxito também à direção de Jorge Fernando. A comédia prevalece em "Ti-ti-ti", que é uma produção das 19h, alegre, leve etc. Mas Julinho é uma das provas de que dirigir bem é também conhecer uma diversidade de tons. E o diretor conhece.

Fonte: Patricia Kogut